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#Partiu2016

A decisão de montar as famosas listas de resoluções para o Ano Novo nos faz refletir sobre a rapidez da passagem do tempo e revela detalhes do quão importante é o nosso cotidiano

Por Rosilene Pereira

Ney Douglas Marques

­— Bom dia, Rosinha. Tudo bem com você? Gostaria de fazer um convite: você poderia nos prestigiar com um texto seu para o NÓS, DO RN? Vamos falar sobre a passagem do tempo, essa transição 2015 /2016...

Outubro mal havia despontado na folhinha quando recebi a mensagem acima no meu WhatsApp Web – WhatsApp Web é vida, gente! – e pensei: “Hã? 2016? Como assim?” Mas já topei de cara, honrada com o convite de meu agrado. Mas, 2016, já? Nesse mesmo dia, fui a um shopping onde me surpreendi com as prateleiras de uma loja de decoração lotada de papais-noéis movidos a pilha e requebrando a pança, rodeados por uma neve improvisada com chumaços de algodão e cantarolando musiquinhas em um inglês incompreensível. Fiquei ali processando a informação de que realmente estava decretado que já era chegada a época, mais uma vez, de contar ao bom velhinho todas as nossas boas ações anuais. Pelo menos lá, nas vitrines, já era Natal em sua plenitude; pairava no ar aquele apelo consumista por coisas das quais não precisamos e que ficarão estocadas em nossos armários como se estivéssemos prestes a enfrentar algum período de “estiagem fashion” ou coisa parecida. Havia também promoções que nos empurravam para garantir a compra antecipada da lembrancinha do amigo secreto da firma, da professora da escolinha da sua filha, do porteiro do prédio, da tia do seu marido que você só vê nas obrigações natalinas, da vizinha que te empresta açúcar quando falta, dos sobrinhos trigêmeos, da... Sim, sempre são muitas as compras.

Tudo, claro, ricamente ornamentado por bolas verdes e vermelhas purpurinadas e raminhos de azevinho de plástico, iguaizinhos aos encontrados nas florestas do interior da Irlanda. Provavelmente, quem fez a decoração não sabe muito bem porque o azevinho é usado – deve até ignorar que aquilo é um ramo de azevinho. Mas, se tem dado certo assim por décadas, se papai e mamãe se dedicam a encher sacolas enquanto tiram selfies nos arranjos, para que mexer em time que está ganhando, não é mesmo?

Então me rendi à ideia de que já era Natal e logo depois viria o tal do ano novo... Ano novo = lista de ano novo. Não havia feito a minha ainda, visto que apenas com o convite para redigir este texto é que tinha me dado conta de que já corria o décimo mês do ano. Minhas listas vêm crescendo com o passar do tempo já que agora, mãe de família, não sou só uma; sou também Marcelo, Luísa e Estela. Para mim é importantíssimo escrever, deixar registrado no papel metas, sacadas para as próximas crônicas, sonhos ainda não realizados, a bandeja de iogurte da Frozen das meninas e os outros itens de supermercado, senão vem o tempo com aquela sua borracha safada, daquelas metade azul metade vermelha, que custam três ou quatro moedas de dez centavos na papelaria da esquina, e apaga da sua memória, seus planos e suas melhores ideias, sem deixar nem a marca na página para você colocar contra a luz e tentar adivinhar depois o que tinha escrito. Não tenho tempo a perder, muito menos ideias, coisa de muito valor hoje em dia. Tomei consciência disso quando perdi anos me lamentando por um dia ter deixado Dublin sem sequer ter visitado o túmulo de Oscar Wilde. Somente neste 2015, assistindo ao espetacular “Beije minha lápide”, com o Marco Nanini, é que fiquei sabendo que o escritor está enterrado no Père Lachaise, em Paris. Perda de tempo, tsc, tsc!

Para começar a esboçar a tal lista, um filme rápido passou pela minha cabeça, das experiências deste ano até épocas passadas que mais parecem ter sido vividas em outra encarnação. Explico: vivi fases tão distintas umas das outras e tão marcantes que parece que não caberiam todas em mim, que tinha mais gente vivendo aquilo ali comigo, saca? Fases com grana, comprando apartamento; e sem, petiscando salsicha em casa, fingindo que era finger food. Num dia, era solteira convicta, com planos de mochilar pela Europa. No outro, estava casada com Marcelo e fazendo a planejada viagem. Morei com minha família, sozinha, com amigos, a dois. Cresci em Natal, virei gente em São Paulo, me senti analfabeta em Paris (ainda não passei do bonjour, je m’appelle Rosinha), reaprendi inglês em Londres, recebi indelicadezas naquela lindeza que é Roma, cruzei Portugal e Espanha na boleia de uma carreta, quis findar meus dias em qualquer cidadezinha da Argentina e espero um dia voltar ao paraíso do Bonete. E ainda gerei uma menina, olha que beleza!, depois outra (e chega!). E teve um trabalho novo e depois mais um, e um belo dia eram três ao mesmo tempo, que me trouxeram um bigode chinês ao redor da boca e com o qual eu não contava aos trinta e três anos.

Falando em idade, na minha lista de ano novo tenho que incluir já um corpinho sarado pra chegar aos quarenta, como faz uma amiga minha amiga loira e alta e linda e escovada e fitness e que mora no Canadá com sua família de comercial de margarina... Hummmm... Melhor não, né? Pé no chão evita frustrações. Se 2016 tá aí, 2017 vem logo depois me colocando nos “enta”. Quando os 4.0 chegarem serei uma jovem senhora mãe de uma menina de cinco e de outra de dois anos.

Mas tem assunto mais urgente para a lista #partiu2016. Aonde ir no carnaval, por exemplo. Quando comecei a escrever esse texto, fiquei sabendo que já estávamos a cem dias do próximo sábado de Zé Pereira. Eu, que não tinha planejado sequer o cardápio da noite de 24 de dezembro, já tinha que me preocupar se daria ou não para levar as meninas para estrearem no Galo da Madrugada, no dia 6 de fevereiro de 2016 (pelo menos já sabemos a data que o ano realmente começa e que começará mais cedo do que 2015).

Como mesa farta de Natal e viagem de folião dependem de grana, achei melhor me atualizar sobre o cenário macro econômico para o ano que vem:

Mercado piora previsão do PIB e projeções de inflação em 2016 disparam Por Ana Conceição, Valor – 25/10/2015 SÃO PAULO – As projeções do mercado para a inflação no ano que vem dispararam na última semana, de acordo com o boletim Focus, do Banco Central. Ao mesmo tempo, se deteriorou a expecatativa para a economia, com mais uma revisão para baixo na estimativa do Produto Interno Bruto (PIB).

Não era lá muito animador o título da matéria escrita pela coleguinha Ana Conceição para o Valor. Se naquele ano da Copa (ih, pra quê eu fui lembrar da Copa?) já havíamos perdido o grande Ariano Suassuna e o país começou a mergulhar na recessão, 2015 não teve muitas manchetes positivas nos jornais com a operação Lava Jato em curso e o sumiço de quase 1 milhão de vagas do mercado de trabalho formal. Assim, o que esperar de 2016? Diz o Banco Central que o dólar vai ficar em 4 reais (eu nem queria ir pra Disney mesmo). O Fundo Monetário Internacional, o tão falado FMI dos anos 1980 que media os índices de inflação sempre acima dos 100%, fala que a expectativa é que esse número fique lá pelos 9%, acima dos tolerados 6,5%. E o que isso significa? Que provavelmente a maioria de nós terá de adiar a realização daqueles sonhos que dependem de um bolso mais recheado.

Certo. Ok. Precisava dar uma animada! Que tal olhar o horóscopo, consultar os astros? Como boa aquariana “antenada com o futuro e irradiadora de mudanças”, segundo o perfil do meu signo, achei a previsão a seguir:

Previsões do signo de Aquário para 2016

– por Lu Shalom Para as aquarianas o amor estará em alta em 2016, pois haverá oportunidades para quem está sozinha. Em 2016 terão caminhos de prospoeridade, novos ganhos, inclusive para jogos de azar.

Cara Lu Shalom, sou casada, monogâmica e feliz. E desisti de jogar na Mega-Sena depois da terceira tentativa mal-sucedida de me tornar uma milionária excêntrica que dá uma volta ao mundo por ano. Mas como as cifras da Mega da Virada são bem atrativas posso voltar até a lotérica mais próxima em dezembro:

Ganhador do DF da Mega da Virada retira prêmio de R$ 65,8 milhões (Isabella Calzolari, G1 DF – 05/01/2015) Morador de Brazlândia fez aposta R 2,50 e retirou valor nesta segunda. Prêmio da Mega da Virada de R$ 263,29 milhões foi dividido com mais 3. O apostador de Brasília que acertou as seis dezenas da Mega da Virada, junto com outras três pessoas, retirou o prêmio de R$ 65,823,88,16 na mnhã desta segudna-feira (5), infromou a Caixa Economica Federal. O ganhador fez uma única aposta, de R$ 2,50, na Lotérica União, no centro de Brazlândia, no Distrito Federal.

Estou explorando demais o assunto dinheiro para uma época na qual o que importa é renovar a esperança (ou para tentar sair do rés do chão da desesperança). É tudo envolto num cenário tão bacana, luzinhas coloridas piscando nas janelas, as confraternizações pagas pela firma, a família reunida no jantar fingindo não notar o peru queimado por fora e cru por dentro, a árvore repleta de presentes parcelados em 10 vezes no cartão pra ir juntando milhas... Não quero ser um grinch, o monstrinho que não quer deixar as festas de fim de ano acontecerem. Mas deixo um conselho: pule as sete ondinhas, vista branco com uma roupa de baixo amarela na noite da virada e coma lentilha na ceia. Só pra garantir. E mesmo com a tia que se vê de vez em nunca como companhia, a lembrancinha que não era bem a bolsa Louis Vuitton sonhada, lembre-se que tem a quem pedir a xícara de açúcar que faltou para o bolo e uma costela para chamar de sua ao deitar. E simbora que primeiro de janeiro já é uma sexta. Um viva ao Papai Noel e um feliz ano novo, gente!

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