Por Sérgio Vilar
Quando faltam conselhos dos pais à educação dos filhos a lacuna aberta pode ser preenchida por bons ou maus exemplos. Escola, amigos da rua, filmes e demais formas de entretenimento ganham força na formação da criança ou adolescente. É o risco pago pela ausência.
É mais ou menos esse o vazio vivido por uma manifestação artística mergulhada numa cena na qual falta crítica cultural, a exemplo do silêncio decano da imprensa potiguar nesta seara. O artista perde uma possível referência abalizada para seu trabalho e o resultado, tais quais as influências educacionais do filho por outros, pode ser maléfica.
Claro, a metáfora é superficial. Há muito em jogo e as regras são quase sempre inválidas quando o assunto é produção artística. O relativismo, a essência e o talento espontâneo falam mais alto que qualquer opinião. Ora, na arte há sempre um significativo percentual de incompreensão alheia. A história comprova isso.
Quantos artistas hoje considerados cults foram amaldiçoados pela crítica? ‘Admirável mundo novo’ de Aldous Huxley foi massacrado por críticos e hoje é cultuado entre clássicos literários. J. D. Salinger, Charles Bukowski e até ‘Moby Dick’, de Herman Melville são outros de tantos exemplos reconhecidos quase um século depois.
Então, a crítica nunca é definição e sim opinião. E sob outro aspecto importante é também divulgação. Uma coluna crítica publicada em veículos de boa audiência incentiva o público a comprar determinado produto ou acompanhar a evolução e produção de determinada forma artística.
Infelizmente, as artes visuais potiguares pouco ou quase nada mereceram atenção ao longo do tempo na imprensa. Exemplos parcos e sem regularidade pontuam essa história. Talvez a exceção seja a coluna do professor, artista plástico e crítico Vicente Vitoriano, publicada semanalmente entre 1994 e 1996, e entre 1998 e 2005 no já extinto Diário de Natal.
Vale ainda a lembrança dos textos sobre arte, estética e poesia, escritos na Tribuna do Norte pelo traço textual e artístico de Dorian Gray Caldas. De resto são referências pontuais. Franco Jasiello, décadas atrás, ou Ângela Almeida e Sayonara Pinheiro, mais recentemente, escreveram críticas de arte de forma esporádica.
A crítica na imprensa alternativa talvez seja mais vasta e também mais escondida entre publicações de poucas tiragens, regularidade ou longevidade. Nessa seara, o artista visual Novenil Barros colocou suas impressões em suplementos, revistas e fanzines. Em menor número, Franklin Jorge, Jota Medeiros, Falves Silva, João Batista de Morais...
É neste novelo histórico de ausência crítica às artes visuais no Rio Grande do Norte que a produção evoluiu e hoje alcança bons níveis técnicos e presença no chão da contemporaneidade, apesar dos pesares. Mas se somos marcantes sem a referência dos nossos “pais”, que dirá se tivéssemos o auxílio dos bons conselhos?