Artista plástico deixou mais de três mil quadros e pelo menos quatro livros inéditos que agora estão sob os cuidados de seus dois filhos.
Por José de Paiva Rebouças
Kalina Veloso
Ficou para seus dois filhos, Dione e Adriano, a tarefa de cuidar da obra deixada por Dorian Gray Caldas após sua partida derradeira. Embora encarem como desafio, faz tempo que os dois já exercem esta função.
A curadora Dione Caldas, pintora reconhecida aqui e lá fora, cuidará das artes plásticas, atividade que, segundo ela, exerce “desde sempre”. Ficaram sob sua responsabilidade mais de três mil obras, das mais de 10 mil produzidas ao longo da carreira do pai.
Isso, fora os inúmeros trabalhos inacabados e as centenas de estudos que têm tanto valor quanto os quadros. “Meu pai sempre teve muitas ideias”, conta Dione.
Apesar deste acervo, a artista plástica só anseia apresentá-lo em exposições no próximo ano, provavelmente a partir do dia 16 de fevereiro, dia do aniversário de Dorian Gray. “Penso em realizar uma exposição mostrando os vários trabalhos produzidos em cada década de sua carreira”, disse.
Talvez Dione não se lembre, mas se este projeto sair do papel, acontecerá dez anos depois da exposição “A arte brasileira em dois tempos”, realizada em maio de 2008 na Galeria Orla Cultural do Shopping Orla Sul, em que ela e Dorian expuseram juntos.
Até lá, a curadora não pretende comercializar os milhares de trabalho do pai. “Não estamos interessados em vendê-los”, afirma. Então, quem tiver interessado em adquirir alguma obra do Dorian, pelo menos até 2018, terá de procurar algum marchand ou garimpar pelas galerias da capital.
Outro projeto que anda pela cabeça da família há anos, pensada inclusive pelo próprio Dorian, é transformar a casa deles, na rua Anna Nery, em Petrópolis, em um instituto. O local está com os Gray há pelo menos três gerações. “Continua sendo nosso sonho”, concluiu Dione.
Salão Dorian
Para aqueles que querem rever ou conhecer a obra do artista, a Fundação José Augusto (FJA) prepara a segunda edição do Salão Dorian Gray Caldas. Desta vez, o evento será realizado no Museu Municipal Lauro da Escóssia, em Mossoró, entre 13 de junho e 13 de setembro. Depois segue para Natal.
A iniciativa, além de guardar um espaço para o trabalho de Dorian, reunirá ainda outras 300 obras de 150 artistas do Estado.
O primeiro Salão aconteceu em maio do ano passado, com a presença do homenageado. O evento foi organizado pela Sociedade Amigos da Pinacoteca (SAP), com apoio da FJA, e reuniu, na Pinacoteca estadual, o trabalho de 100 artistas plásticos potiguares.
O que ficou na literatura
Dorian Gray Caldas escreveu mais de 30 trabalhos, entre livros, ensaios, álbuns, gravuras e outros. Ainda assim, deixou pelo menos quatro obras inéditas, além de uma infinidade de projetos inacabados e rascunhos que precisam ser catalogados.
Este será o desafio de vida de seu filho, Adriano Gray, que sempre o acompanhou em sua produção literária. Também poeta, com livro na gaveta, o jovem era encarregado de digitar, editar e diagramar os manuscritos do pai.
Segundo Adriano, entre os muitos documentos e papeis escritos a serem relacionadas, quatro trabalhos estão prontos para a edição. Um deles é o segundo volume de “A hora única: reunião de textos em prosa”, dedicado à crônica, cujo primeiro volume foi publicado em 2012.
Também ficaram encaminhados um livro da gravura, relacionando gravuras nacionais e internacionais; “Dicionário de artes plásticos do RN”, que nunca foi possível publicar, e um livro de cordel, dedicado ao estudo sobre a literatura popular nordestina, ainda inconcluso.
Por enquanto, segundo Adriano, estes trabalhos ficarão na gaveta até que surjam oportunidades de lançá-los. Até lá, ele pretende realizar a catalogação de todas as anotações e rascunhos do pai, onde, possivelmente, encontrará outras coisas inéditas.