Por Jota Medeiros
Kalina Veloso
Das várias vertentes das Artes de Dorian Gray Caldas, destaca-se o desenho e, consequentemente, a escultura e a gravura. A escultura moderna, pioneira no Rio Grande do Norte em suas linhas em primeira instância, curvilíneas, o “Monumento às Mães”, da praça das Rocas, pioneira da “forma gorda” que tem como maior expressão o colombiano Botero. Câmara Cascudo, em longo artigo publicado no jornal “A República”, de 30 de abril de 1960, intitulado “Mater Potens” afirma: “Não creiam ver a figura estilizada e convencional de mãe elegante. Vereis ‘Mater Pontens’, mãe potente do amor. Telúrica e fecunda como a grande mãe generosa”. Segue-se o “Monumento à amizade”, no bairro de Petrópolis, um ano após, em 1961, comemorativo aos 25 anos do Rotary Clube. Hoje, eis a terceira expressão, o objeto em estado de terceiridade. No final dos noventa, o minimalismo da “Vestal”, fixada em um edifício da Avenida Afonso Pena, um objeto mínimo e espantoso, de altíssimo teor lírico metairônico: decifra-me ou te devoro.
perpassam paisagens marinhas, barcos e barqueiros, Jangadeiros, mitos e lendas do nosso imagi- nário solar.
As gravuras são multiexpressões de forma e traço que abrangem todo o universo de paisagens campestres, jangadas, folguedos populares, pescadores de um “incontestável sabor telúrico e nativo”, a que se referiu o crítico Antônio Bento. Este artista plural fez uso dos sete instrumentos, num permanente diálogo simultâneo (intrínseco) de signagens e/ou processos artesanais que envolvem desde a pintura à tapeçaria e, mais precisamente, a raiz de todo esse sonho em movimento, o desígnio.
O início de sua gravura é marcado pela bela expressão construtiva d’ “O Galo”, ilustrativa do cartaz da “L’atelier Galeria”, de 1966. Para o crítico paraibano Archidy Picado, “Dorian Gray desponta ao lado de um Brenand e de Gilvan Samico como autêntico criador de uma realidade nordestina, tipicamente brasileira...”. As suas imagens desenhadas são expressões lírico-lúdicas de um rigor de sinuosidades, ícones telúricos que se expressam predominantemente em seus traços curvilíneos, em que personagens heróis dos folguedos, a exemplo do “Bumba-Meu-Boi” e dos “Congos”, dentro outros, personagens pescadores, meninos de rua (ver “A margem” – serigrafias), negros, brancos e/ou mestiços, figuram magistralmente paramentados diante de sua retina onírica, onde perpassam paisagens marinhas, barcos e barqueiros, jangadeiros, mitos e lendas de nosso imaginário.