Por Iaperi Araujo
Dorian Gray (1930-2017) foi um dos mais completos e importantes artistas do Rio Grande do Norte, não somente pela sua participação na primeira manifestação de arte moderna no Estado, quando em 1950, junto com Ivon Rodrigues e Newton Navarro, organizaram uma exposição de pinturas e desenhos no centro histórico de Natal, contrapondo-se a todas as manifestações diletantes e acadêmica de arte, mas também pela pluralidade de sua obra não somente nas artes plásticas, mas também na literatura.
Os artistas do Rio Grande no final da década de 40, mais de 20 depois da Semana de Arte Moderna, continuavam a fazer uma arte acadêmica comprometida com modelos europeus sem tomar conhecimento dos movimentos de modernidade das artes e da cultura que buscavam na cultura brasileira, uma identidade nacional.
Alguns artistas como Murilo Lagreca e Newton Navarro cursaram Escola de Belas Artes ou frequentaram estúdios de artistas em outros Estados. Aprenderam a dominar técnicas e a terem uma visão crítica dos estilos artísticos. Isso foi um caminho para fortalecer o entendimento que comente a modernização das artes poderia fortalecer a identidade e a cultura nacional.
Dorian Gray vinha de uma família de artistas e trazia na sua ancestralidade a sensibilidade criativa para se engajar numa proposta libertadora, mas ao mesmo tempo transgressora.
Conheceu Newton Navarro que retornava a Natal e juntos resolveram transgredir mais, com uma exposição diferente de tudo quanto Natal já vira e causaram espanto e admiração.
Por quase 15 anos, Newton e Dorian dominaram a cena das artes plásticas da capital, realizando exposições, oficinas para iniciantes, e recomendações a pessoas talentosas. Em 1957, com o Salão de Verão do Santa Cruz, um clube na Praia do Meio, foram revelados como artistas, Tulio Fernandes e Thomé Filgueira, cada um com uma proposta diferente, mas já enquadrados na modernidade. Depois vieram Aécio Emerenciano, Iaponi Araújo, Iraken, Carlos José e Jussier \Magalhães.
Dorian continuou seus experimentos nas artes. Fez esculturas com todos os materiais possíveis. Ferro, cimento, pedra, cerâmica e mármore. As praças de Natal se tornaram locais de suas exposições. O monumento do Rotary em Petrópolis, a mãe da antiga square Pedro Velho. Outras foram colocadas e sumiram pela incúria dos administradores, mas Dorian não parava. Experimento gravuras em lito, madeira e linóleo. Iniciou a tapeçaria no Estado e dele foram os painéis do Hotel Tambaú em João Pessoa, várias agencias do Bandern e algumas secretarías do Governo. O SESC adquiriu um grande acervo de sua produção e dele inúmeros painéis em seus estabelecimentos.
Tudo que Dorian Gray fez, fez muito bem feito. Seu estilo bem definido tornou-se mais aperfeiçoado com o tempo e sempre foi uma identidade de autoria. Figuras compondo os traços que como cortes de luz separavam as cores em intensidade de mesmo tons, cores bem definidas, complementares, sem chocar a composição. Algumas vezes as figuras sumiam e restavam em suas composições somente os elementos da presença do homem. Casarios, barcos de pesca, engenhos, becos e ruelas.
As cenas históricas entraram em seus painéis como elementos decorativos à medida que reconstituíam nossa história: Fundação de Natal, julgamento do padre Miguelinho, deposição de André de Albuquerque, da mesma forma como vaquejadas, campos de algodão com seus apanhadores, rendeiras de almofadas de bilro, festas populares do coco de zambê, pastoris, bois de reis, fandangos e marujadas.
A obra pictórica de Dorian Gray é seu testamento e imortaliza seu espirito criador nos lugares onde estão expostas e registram sua intensa criatividade, sempre em busca da valorização da cor, dos temas, da paisagem e das gentes de Natal e do Rio Grande do Norte.