Em 1966,Seminário de São Pedro, na Avenida Campos Sales - Natal; fui convocado pelo reitor do Seminário, Pe. Lucilo Alves Machado, para pintar um painel na sorveteria São Pedro, cujo o tema era “As Mulatas”, inspirado em pinturas de Paul Gauguim.

O salão da sorveteria era amplo e na parede central iniciei a pintura com garra e emoção, por ter oportunidade de mostrar ao público, um dos primeiros trabalho de minha autoria no qual expressava um “colorido-sentimento”, na figuração humana, nos girassóis e no céu banhado pelo azul de anil, pontuações do azul da Prússia, iluminado por pigmentos de branco prata.

Encostado à parede, tinha uma escada na qual apoiava-me, tendo nas mãos uma paleta de eucatex, com uma sequencia de cores e pincéis largos que traçavam as formas das figuras de duas mulheres, num ambiente tropical, luminoso e sensual que atraia os olhares de quem passava pela sorveteria, na rua Apodi no Tirol.

Certo dia, um homem elegante, bonito e de aparência serena, estacionou o carro-fusca e foi em direção à sorveteria observar atentamente a composição do painel, as cores fortes e a marcação de luz, que dava ao trabalho, uma força plástica banhada de símbolos de uma região e a caracterização psicológica e cultural daquele momento.

Este homem voltou-se para mim e disse:”Continue pintando que você tem muito talento”.

Ao sair da sorveteria, perguntei a outro seminarista, quem era aquele homem? E ele respondeu-me que era “o famoso pintor Dorian Gray”.

Aquela atitude de Dorian Gray foi de muita importância para mim, porque levou-me a uma reflexão sobre primícias do meu ofício de pintor, transformando aquele momento em autoestima de um jovem seminarista de quatorze anos, vindo de São Tomé.

Dentro do Seminário, tive o apoio e a admiração dos seminaristas: Antônio Marques, Carlos José Marques, Eduardo Pinto da Silva, Dario Franco, Antônio de Lisboa Araújo, Francisco Ivan da Silva, Paulo Eustáquio Othon, Manoel Neli Rocha Vieira e Jaime Vieira Rocha.