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Oeste: mosaico de belezas

Do mar à Serra, a segunda maior mesorregião do Estado é conhecida por suas belezas naturais e riqueza cultural.

Por Higo Lima

Canindé Soares

Visto isoladamente no papel, o Oeste potiguar parece apenas mais um pedaço do mapa do Rio Grande do Norte. Mas na verdade, são linhas que contornam um mosaico de cidades que se destacam por sua gastronomia, expressões culturais, religiosidade, seu povo e até a diversidade de paisagens, que vão do mar à serra.

Segunda maior mesorregião do Estado, o Oeste agrupa quase 40% dos municípios do Rio Grande do Norte. São 62 cidades distribuídas por sete microrregiões (Chapada do Apodi, Médio Oeste, Mossoró, Pau dos Ferros, Serra de São Miguel, Umarizal e Vale do Açu), que ligam nosso Estado ao Ceará, pela vizinha região do Vale do Jaguaribe; e ainda com o Sertão Paraibano.

Não há como descrever o RN sem destacar a beleza de suas praias. E nessa faixa do Estado a região da Costa Branca tem a sua relevante contribuição ao aproximar o mar e o Sertão em praias até pouco exploradas. É o caso de Ponta do Mel, na cidade de Areia Branca, que oferece água de verde cristalino, falésias e vegetação típica da Caatinga, como xique-xique e mandacaru.

Esse cenário de filme se estende até à praia vizinha, Dunas do Rosado, que divide território com a cidade de Porto do Mangue. Ali, além das águas marítimas, a atração de encher os olhos está na infinita camada de dunas, cuja área é moldada pelo movimento dos ventos, apresenta variações de cores. Já a praia de Tibau lidera a procura para veraneio na região.

Longe do sol e mais próximo das temperaturas amenas tem a região serrana de Martins, que junto com a cidade de Portalegre são um convite ao aconchego e uma boa contemplação da generosidade da natureza com seus mirantes, cachoeiras e trilhas. Um convite aos amantes do ecoturismo e das baixas temperaturas que climatizam os românticos festivais do frio.

São tantos encantos que alguns perpassam a fronteira do tempo. Em Apodi, o Lajedo de Soledade guarda 90 milhões de anos de história, uma riqueza que ajuda a explicar a chegada do homem ao continente americano. O local é formado por mini cânions onde já se localizou fósseis de animais pré-históricos, além de incontáveis pinturas rupestres de espécies de animais e formas geométricas. Todo esse patrimônio faz do Lajedo de Soledade, um dos sítios arqueológicos mais importantes do Brasil.

Essa natureza exuberante parece ser ainda mais latente quando mesclada com a presença do povo do Oeste. É uma mistura de tradições que se manifesta no colorido das roubas juninas, na dramaticidade do teatro. Até no sotaque de poetas, poetas-cordelistas, cantadores de viola e — por que não? —, no som da reza das benzedeiras. As “senhoras da cura” resistem o passar das gerações e seguem forte na cidade de Areia Branca.

Não faltam motivos para fazer de Junho o mês mais festivo do ano. Se o inverno foi bom, o sertanejo agradece; se foi de estiagem, o sertanejo aproveita o mês dos três Santos para renovar o pedido por água no Sertão. Santo Antônio, São João e São Pedro são as motivações para uma maratona de quadrilhas, guloseimas e muita quermesse. Tem até cidade com dois padroeiros. Em Apodi, os católicos celebram São João Batista em junho e, em dezembro, Nossa Senhora da Conceição.

Assú e Mossoró também são destaques pela grandiosidade das festas. Nessa última cidade, o mês coincide com o épico episódio da resistência do povo de Mossoró à invasão do bando do cangaceiro Lampião, em 1927. A história se perpetua sendo contada em um teatro-musical encenado no adro da capela que permanece cravejada com as balas do confronto.

E por falar em Cangaço, na cidade de Patu nasceu Jesuíno Brilhante, o “cangaceiro romântico”. A alcunha dava-se pela fama de homem gentil que o diferenciava do resto do bando. Tão diferente que, conta-se no sertão: ele roubava para dar aos pobres. Uma espécie de Robin Hood do Cangaço.

São histórias e mais histórias contadas e recontadas pela sabedoria popular. Algumas estão registradas em livros editados pela Coleção O Mossoroense, que, por sinal, tem a maior bibliografia sobre secas no Brasil — a estiagem essa é uma ferida aberta na região. Cicatrizes e risos de um povo que ganha espaço no palco do maior Festival de Teatro do RN — o Festuern, promovido pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), com estudantes das escolas públicas de toda a região.

Não há como enxergar o mapa da região Oeste diferente de um lindo e colorido mosaico, sobretudo por sua gente de garra, que da terra tira o sustento e do céu a esperança por dias sempre melhores. Crença que se renova a cada ano; por exemplo, na gigantesca romaria por Santa Luzia, padroeira de Mossoró, ou ainda na Serra do Lima, quando centenas de fieis lotam o Santuário de Nossa Senhora dos Impossíveis, em Patu.

E se é para sintetizar o modo como a nossa gente transforma o lugar em pedaços de afeto, ninguém melhor que o poeta Antônio Francisco, membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC) e cativo da cadeira do mestre Patativa do Assaré:

“Como na antiga Grécia,
O Nordeste também tinha
Os seus deuses mitológicos —
Deus da chuva, deus da vinha,
Do verão, da primavera,
Mas, o mais famoso era
Cafuné — deus da morrinha”.

Assim é o Oeste — uma parte do mosaico desse imenso mapa.

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