O que leva as pessoas a acreditarem que são do tamanho daquilo que desejam ser?
Por Juliska Azevedo
Ney Douglas Marques
Ainda lembro do fascínio com que eu olhava para aquele título na estante de livros. Passava e o via. Voltava e lá estava ele me olhando. Parava, pensava, a curiosidade vinha. “Pode quem pensa que pode”. Livro de Lauro Trevisan. Será que é simples assim mesmo? É só pensar e poder? Onde está a fórmula dessa certeza? Foi movida por essa curiosidade que, aos 9 anos, li o primeiro livro de “autoajuda”, sobre o poder infinito da mente e outras fantásticas coisas simples da vida. Tão simples que a gente nem percebe que estão sob os nossos narizes.
Não sei se foi o achar que podia muito que me levou a ler, ou se o que eu li me fez começar a perceber que poderia querer e poder muito mais. O fato é que o primeiro contato com o tema em uma leitura razoavelmente rudimentar e cheia de “lugares comuns” me fez despertar para os movimentos do universo e o poder que supostamente exercemos sobre o girar do mundo ao nosso redor. Dos nossos próprios mundos. A começar a desenvolver uma compreensão, ou para alguns, crença, de que há uma interligação entre os nossos movimentos e o que se movimenta junto, planeta afora.
O fato é que o otimismo é um motor alimentado pela vontade e o pensamento positivo desde muito tempo para mim. É aquela chama acesa que não deixa, mesmo nos momentos mais difíceis, de apontar para a certeza de que “tudo dará certo no final”. O que me leva, no sufoco, a enxergar à frente. Ou procurar o socorro de um ombro amigo que ajude a afastar as nuvens e recuperar, lado a lado, o pensamento positivo entranhado nas vísceras, as vezes alvejado, mas jamais morto. Nada melhor do que compartilhar um reencontro com o otimismo.
É demais pensar assim? Será a “síndrome do happy end”? De Poliana? Um jeito bobo de ver a vida ou o mais esperto, o que acredita e credita o roteiro da nossa existência a uma boa dose de influencia própria?
Criticado pelos céticos, o otimismo encontra guarida na ciência, logo nela, tão racional. Pesquisa divulgada em janeiro de 2015, realizada pela Universidade de Illinois, apontou que pessoas otimistas têm até 76% mais chances de ter um coração saudável. Também são mais ativas, mais magras e fumam menos. Esse “mais magras” foi fogo, você deve estar pensando. Mas não é só por isso que vale a pena! Um outro sem número de pesquisas já relacionou a fé e o pensamento positivo à cura de doenças. Apontam, por exemplo, que a prática religiosa – e consequentemente o amparo positivo da fé – podem reduzir as chances de morte de pacientes em até 30%.
Jesus Cristo já dizia, segundo nos conta a Bíblia, que não há motivos para não sermos confiantes. “Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar algum tempo à jornada da sua vida?”, perguntava, no Evangelho de Mateus. O senso comum aponta para ditados populares a martelar que preocupações com o passado e com o futuro, que ocupam a mente de 99,9% dos humanos, de nada valem. A teoria do foco e da atenção plena no presente, o Mindfullness, ganham cada vez mais adeptos, em uma época onde estar presente deixou de ser o contrário de estar ausente. As duas condições, praticamente, coexistem. Mas focar no que é bom é uma necessidade cada vez mais consciente. Não duvide: é preciso, também conscientemente, ser otimista.
Sou otimista ao crer nesta defesa dissertada do otimismo e na capacidade de envolver você com o tema. Mas o argumento mais forte a listar é também o mais intangível. É a fé na energia do bem como força geradora de mais luminosidade. De que seremos do tamanho que desejarmos ser. Que teremos o que almejarmos a nós mesmos. E de que a vida nada mais deve ser, do que uma existência com percalços, altos e baixos, ciclos. Eles nos fazem manter o pé no chão ainda que com a cabeça nas nuvens. Valorizarmos os outros e não nos superestimarmos de forma egoísta. Porque ser otimista tem disso também. Inclui enxergar no outro o que nele há de melhor. Em inclui-lo no melhor pensamento de que partilhar é multiplicar o positivo.
Otimismo, nos dias de hoje, deixou de se deixar julgar como o conformismo de outros tempos, para ser o grito contra tanta coisa que se acumula por aí. As estantes dos volumes onde repousam os “Pode quem pensa que pode” têm dado lugar a uma mídia por vezes excessiva em negativismo, redes sociais eivadas de pessimismo, revolta e intolerância. Uma urgência de tudo que nos toma em nervosismo, ausência, incessantes questionamentos. Uma geração que quer poder tudo, as vezes sem o foco de pensar para construir o que merece.
Mas essa avalanche toda há de apontar muitas grandes coisas. Achou que eu estava ficando pessimista? Não. Vamos tirar desse ciclone algo de fabuloso. Não há otimista que duvide. Porque, para nós, as dúvidas são os caminhos de se construir as melhores certezas, nessa árdua tarefa de alcançar desejos, realizar sonhos. Como disse Gonzaguinha, “nós podemos tudo, nós podemos mais. Vamos lá fazer o que será”.