O fascínio gerado pela tecnologia tem levado os jovens a um universo de expressão e descoberta. Mas, até que ponto os ciberespaços confundem seus limites com o mundo real?
Por Glebe Duarte
Nosso comportamento nunca mudou tanto e tão rápido de uma geração para outra, quanto com o advento de novas tecnologias. Uma geração que não tem tempo para se prender a nada, tudo é muito volátil e fica ultrapassado antes mesmo da maioria chegar a conhecer. Os jovens de hoje fazem parte da primeira geração que já nasceu com a internet banda larga. Este grupo passou a olhar o mundo na mesma velocidade e, infelizmente, com a mesma superficialidade com que se navega na web.
Com tudo mais fácil de ser encontrado, clicar e ler algo, às vezes, se torna uma ação homérica. Estamos com acesso a tanto conhecimento, em quantidade nunca antes produzida pela humanidade, que absorver tudo isso se torna cada vez mais difícil. Para se ter uma ideia, os dados produzidos pela humanidade hoje equivalem a 8 zettabytes! (1 zettabyte, equivale a aproximadamente o armazenamento de 75 bilhões de iPads de 16GB).
Diria até que o maior problema não é a quantidade de informação, mas sim a falta de filtros sobre ela. Este critério, aliás, faz com que tudo possa ser absorvido, mas ao mesmo tempo nada em profundidade. Ou seja, vemos cada vez mais pessoas que só leem títulos e não seus conteúdos. O ComScore - empresa de análise de mercado que fornece dados de marketing e serviços para muitas das maiores empresas da Internet -, fez uma pesquisa e comprovou isso que 80% das pessoas apenas passam os olhos nos títulos das reportagens. E mais: essa geração já se sente informado apenas com isso.
Telefone sem fio
Também temos a mudança de comportamento gerada pelos dispositivos móveis. No final do século passado, usava-se o celular apenas para telefonar para alguém. Hoje o smartphone já é usado para diversos fins, mas, cada vez menos pra telefonar. O mesmo ComScore revelou um dado interessante: por apenas 12 minutos do dia usamos o smartphone fazendo chamadas e passamos os 98 minutos restantes usando aplicativos.
Para esta geração Touchscreen, o acesso rápido e imediato é um dos pontos mais marcantes, mas que se estende também às suas relações. Vemos uma geração que tem dificuldades inclusive de saber esperar uma resposta no WhatsApp, ou que fica indignada se a mesma mensagem tiver sido lida e não tiver recebido resposta. Esta mesma geração que prefere apps (aplicativos) como o SnapChat, em que nada fica gravado, dando a liberdade que tanto desejam. Tal aplicativo ainda permite fazer registros do momento e da forma que quiserem e exibir apenas para quem quiser (mesmo que isso possa ser feito de outra forma em outras redes, mas os amigos agora estão nesta, então é nesta que vai acontecer).
Aplicativos
Hoje o que viraliza são apps, memes, tudo aquilo que circula facilmente entre um grupo e outro no WhatsApp. Alguém lembra do Dubsmash? Surgiu como um surto, todos criando suas dublagens e exibindo aos amigos (e também ao mundo todo). Este mesmo aplicativo é usado hoje? Ele é um bom exemplo desta geração. As coisas surgem de repente, são vibrantes, na verdade quase a melhor coisa do mundo. Em seguida somem, pois já tem algo mais interessante no lugar.
Hoje vemos crianças de sete e oito anos com canal no Youtube, com dez já escrevendo seus blogs, com menos até já tem perfil em algumas redes sociais. E existe problema nisso? Depende. O exercício da criatividade, a capacidade de criar, as inúmeras ferramentas que estimulam o raciocínio estão aí, todas à disposição, a um clique dentro do Google, mas não é exatamente isso que é explorado. Enquanto não direcionarmos o melhor uso dos jovens para os recursos que eles têm nas mãos, poderemos gerar cada vez mais pessoas inseguras em suas relações, ansiosas e ainda mais dependentes da tecnologia. Esta medida certa precisa ser avaliada caso a caso, o estímulo pode ser válido, mas se não for dosado, bem direcionado fará mais mal do que bem.
Na escola
Hoje a adoção de tablets nas escolas está virando um padrão, mas quanto dos recursos realmente são usados de forma produtiva? O quanto do que é solicitado pelas atividades não são apenas uma mudança do papel para o digital, não explorando o potencial do recurso em mãos? Portanto, inserir um recurso tecnológico sem um bom direcionamento será apenas gerar mais um elemento de distração a uma geração já acostumada com informações e estímulos de todos os lados.
Pode parecer que sou contra tudo isso e que estou condenando uma geração inteira, mas muito pelo contrário. Em contraponto a tudo isso, acredito que podemos gerar os melhores profissionais que o mundo irá ter, mas direcionar esta geração é um compromisso da geração anterior e me incluo nela. Mas nisso podemos falhar se não gerarmos os estímulos corretos. Nossa geração já está virando escrava do smartphone, imagina então que limites daremos aos nossos jovens se não conseguimos criá-los em nós mesmos?
Vamos analisar o que poderemos tirar de proveitoso em alguns dos recursos que temos hoje. Estimule a criação textual com um blog, por exemplo. A expressão do pensamento crítico, expondo os posicionamentos sobre os diferentes tipos de assunto. Faça vídeos (não precisa publicar) sobre os mesmos temas, estimulando a desenvoltura, a perda da timidez, o aprender a falar em público, depois reveja os vídeos, aprenda onde poderia melhorar. São alguns exemplos de que usar alguns recursos e redes podem ser bem úteis, além, é claro do se relacionar com outras pessoas.
Se nunca tivemos tanto acesso à informação, que façamos bom uso dela, que possamos filtrar o que realmente é interessante ou não, que estimulemos a reflexão sobre o que é dito na internet, ao invés de avaliar tudo como uma possível verdade, que façamos mais uso dos recursos que temos, mas em prol do nosso crescimento ao invés de apenas entretenimento.