Referência espiritual para muitos brasileiros, o potiguar Carlos Sávio da Costa Ribeiro não mede esforços - principalmente por meio das redes sociais - para alcançar os corações e mentes dos jovens e transmitir a mensagem de que a esperança e a fé devem ser levadas pelos adolescentes para além dos muros da Igreja.
Por Jussara Correia
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A ação pastoral junto à juventude levou o padre Carlos Sávio da Costa Ribeiro a caminhos jamais imaginados. Durante os sete anos em que passou como assessor nacional da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB, o sacerdote visitou quase todos os estados brasileiros, além de outros países no intuito de mergulhar no universo dos jovens.
Um dos organizadores do maior evento católico para a juventude no Brasil, a Jornada Mundial da Juventude – que aconteceu no Rio de Janeiro em 2013 –, o padre usa a tecnologia como aliada na missão de evangelização. “A Igreja não pode se furtar em ter um trabalho eficaz nos meios digitais se quiser atingir os jovens”, disse.
Como surgiu o seu interesse pelos jovens?
Minha experiência com jovens começou aos 18 anos quando eu fiz o “Segue-me”, um encontro de Jovens que existe em todo o Brasil. Na minha adolescência eu era bem danadinho, gostava de micaretas, pulei Carnatal durante muitos anos. Gostava demais dessas festas. Mas não me arrependo. Se o jovem participar desses eventos de maneira saudável, qual o problema? É alegria. Sabemos que hoje há muito besteirol nas músicas. Acho que na minha época tinha menos, mas a alegria é uma coisa inerente à vida do ser humano. A gente precisa de alegria para sobreviver, ou então vamos viver numa nostalgia que não nos leva a lugar algum. Então fui forçado pela minha mãe a fazer o “Segue-me” e então essa experiência mudou a minha vida completamente. São três dias de reflexão e comecei a pensar em algumas coisas que precisavam fazer mais sentido na minha vida. A partir daí, despertou em mim um senso de religiosidade. Meus pais sempre foram católicos, mas eu passei pela idade da adolescência e não queria nem saber de religião. Ia na marra para missa. Por isso hoje entendo muitos jovens, pois eu também passei por essa fase. E então despertou um senso vocacional.
Nessa fase de mudança, o que chamou a sua atenção na vida religiosa?
Quando procurei o seminário, aos 19 anos, o que me chamou atenção foi a prática de esportes lá. Eu pensei que era aquela coisa quadrada, que só tinha missa, reza, estudo – claro que tem tudo isso, pois a função do seminário é essa, preparar o jovem para ser padre -, mas o que me encantou foi ver os meninos jogando futebol. Sempre fui esportista e vi que eles tinham uma vida normal. Gostava muito do seminário e sempre liderei muitas coisas lá. E começou meu despertar pelo mundo da juventude. Depois fui trabalhar com Padre Vilela, na paróquia de Candelária. Os jovens eram apaixonados por ele, que já tinha 70 anos, mas tinha uma força com os jovens impressionante. Então fui me encantando cada vez mais. Lembro que chegou uma época em que tínhamos mais de 300 jovens lá participando todos os sábados, em diversas reuniões. Isso me encantava. Esse amor vem daí. Depois que me ordenei fui enviado pra o município de Angicos e havia lá uma carência de movimentos juvenis, então entrei de cabeça. Eu morava em Fernando Pedrosa e lá reunia os jovens para ensinar inglês, pra dar aula, em casa mesmo, fazia ditado de palavras. Sempre tive muitos jovens perto de mim. Então, depois fui transferido pra Natal pra cuidar da juventude da Arquidiocese, com dois anos de ordenação. Fui ser capelão do Colégio Marista. O carisma dessa escola é trabalhar com jovens, então foi outro momento muito bonito. Também fui padre de Emaús, em Parnamirim. Nesse período organizei o Encontro Nacional da Pastoral da Juventude, ocasião em que os bispos vieram e descobriram esse meu engajamento com a juventude e me convidaram para ir à Brasília, pra ser assessor nacional da Juventude da CNBB.
Os jovens de hoje sabem o que querem? O que está sendo apresentado para orientar suas escolhas?
Hoje em dia são oferecidas muitas coisas para os jovens, os tempos mudaram, sem dúvida. Com o aprimoramento da comunicação, o jovem vai muito mais além do que a gente pensa. Então creio que há sim, uma série de coisas sendo oferecida para os jovens. Na música, na arte, na cultura, na religiosidade, na forma de se comportar, ou seja, há uma oferta muito grande de opções para a vida juvenil. Se eles não tiverem uma família sólida que os ajudem a fazer as suas escolhas, se não tiverem uma igreja, que não precisa ser a Igreja Católica, pois não sou pretensioso de achar que todo mundo deve estar dentro da nossa igreja, mas existem denominações cristãs que fazem um trabalho belíssimo com jovens. Ele precisa de uma solidez, um embasamento que ajude em suas escolhas, não pra fazê-las por ele, pois o jovem deve escolher sozinho, mas todo mundo precisa de uma orientação, não necessariamente religiosa, pode ser pedagógica, psicológica. Quem não sem sente bem em ter um amigo, um padre, um pastor, um professor que o ajude a tomar as decisões da sua vida? Acho que nós precisamos dar suporte para ajudar o jovem a acertar o seu futuro. Vemos hoje alguns que estão prestes a fazer vestibular e não sabem se querem Medicina ou Matemática, duas áreas diferentes. Há uma crise vocacional e de identidade muito grande na vida dos jovens. Então vários atores poderiam ajudar nesse discernimento, pois se não tiver alguém preparado, também vai ser oferecido para ele a droga, o álcool, a prostituição, o dinheiro fácil. Essas coisas estão todas aí e a opção quem faz é ele. Existe uma disputa grande e desigual na cabeça de um jovem que ainda está acertando a sua vida.
As novas gerações têm se destacado pela familiaridade com o digital. O senhor acredita que essa é a vocação da juventude? Que outras características que devem ser valorizadas?
Eu sou apaixonado pelo mundo digital e disse muito aos bispos, quando eu trabalhava na CNBB: “A Igreja não pode se furtar em ter um trabalho eficaz nos meios digitais se quiser atingir os jovens”. Por isso mergulho nisso e sei que há muitos riscos. Mas a gente consegue atingir os jovens assim. Mas também creio que não seja só isso. Embora ache que essa tecnologia é fundamental. O jovem tem dentro de si a arte, a cultura. Vi nesse Brasil cada coisa que a juventude faz! Visitei em Santa Catarina os Surfistas da Paz, jovens que se reuniram por causa desse esporte e a Igreja não chegava lá. Outra característica é a ousadia. Sempre digo aos meus: “não tenham medo, sejam criativos, pois a Igreja precisa dessa ousadia”. O Papa sempre diz que quer uma Igreja em movimento. O voluntariado também é outra coisa impressionante. Na Jornada Mundial da Juventude nós precisávamos de 80 mil voluntários e conseguimos isso num piscar de olhos. Eram jovens do mundo inteiro, sendo 60 mil brasileiros e 20 mil de outros países. Quando a gente convida um jovem para uma ação social, ele vem com todo amor e carinho. Quando ele pega pra si uma causa, não tem quem derrube. Se nós soubermos canalizar esse lados positivos, vamos longe com ele. Na JMJ vimos 3 milhões e 800 mil jovem num mesmo espaço e não se via uma briga, uma desorganização. Ninguém reclamava, víamos fila pra entrar no banheiro, os moradores de Copacabana abrindo suas portas. Por que será que quase 4 milhões de jovens conseguem se comportar tão bem e 50 mil num estádio querem se matar? Temos que nos preocupar com a formação integral da nossa juventude.
Hoje as redes sociais têm pautado muitas discussões, levantado polêmicas. Como o senhor avalia a participação dos jovens nessas situações? Eles estão se aprofundando nos temas ou tratado os assuntos de forma superficial?
É próprio do jovem a inquietude. Se é a idade das decisões, é também idade da inquietação. Ele quer saber de tudo. A gente não consegue convencer um jovem simplesmente com um texto retórico. É preciso ter razões e testemunhos, vida. As ações devem falar mais do que as palavras. Sempre digo aos meus que entrem na internet, sejam ousados, não tenham medo de perguntar. As pessoas, muitas vezes, têm medo de falar para os jovens, pois eles nos questionam. Eu mesmo já me vi em situações difíceis com eles, por não saber lhes responder. Mas é preciso ter humildade para dizer que não sabe. No entanto, vivemos numa era do superficialismo, onde não se quer aprofundar as coisas. Querem textos curtos e rápidos. A gente precisa despertar nos jovens o interesse pelo conteúdo das coisas. Na minha paróquia tenho estimulado que estudem, que leiam. Não querem ter respostas para tudo? Então busquem, se aprofundem. Mas reconheço que a internet é um universo complicado. Eu utilizo as redes sociais com muita força, mas às vezes tenho medo também.
O senhor acredita que as redes sociais contribuíram para atrair a atenção dos jovens para a fé?
Sim. A Igreja também avançou muito nisso. Na época do Papa João Paulo II as redes sociais não tinha a força de hoje, era mais a imagem dele na TV. Mas já o Papa Bento XVI fez uso das redes sociais. Já imaginou, um Papa com Twitter? E ainda mais como ele, um alemão com aquele perfil mais sério, sisudo. E o Papa Francisco deu continuidade a isso. Acho que a internet aproximou os jovens de Deus e nós temos estimulado os nossos jovens a não só falar de Deus, mas falar do bem. Precisamos criar uma corrente do bem. Às vezes a gente taxa os meios de comunicação de só falarem coisas negativas para obter audiência, mas há muita coisa boa no meio de comunicação. Enquanto estive em Brasília, organizei três seminários nacionais sobre Juventude e Comunicação. Convidamos jovens do Brasil inteiro, jornalistas, publicitários, técnicos em informática, designs. Eram 600 jovens que se reuniram para discutir sobre o conteúdo das redes sociais. Acredito ser importante, tem aproximado de Deus, mas, ainda mais do bem. Claro que a gente ainda vê muita bobagem, muita atrocidade, mas existem bons sinais e creio que tende a melhorar. Tenho medo de criarmos uma mentalidade pessimista.
O senhor percorreu o Brasil inteiro em sua missão com a juventude, além de ter visitado outros países. Os jovens possuem um perfil parecido ou suas características mudam em cada região?
O Brasil é um país continental e por isso tem muitas diferenças em cada região. Por exemplo, fiz muitos trabalhos em São Paulo. É uma cidade que tem mais de 10 milhões de habitantes. Como fazer um trabalho de evangelização num lugar com 10 milhões de pessoas, onde tudo funciona 24h, onde tem um milhão de coisas pra fazer ao mesmo tempo? E também já fiz trabalho em cidade que tinha 5 mil habitantes. Nesses lugares também tem muito desafio. Não é porque é uma cidade pequena que não tem. Então há uma diferença entre os jovens. Claro que há pontos iguais, como a criatividade, a alegria, as coisas ruins também como a droga, que está das maiores às menores cidades, a sexualidade desenfreada também é um desafio. Mas há uma diferença bonita de regionalidade. Os jovens do Sul tem uma jeito muito próprio de ser, o valor que dão às suas tradições. O nordestino é solto, sabe acolher. São Paulo é um povo mais desconfiado. A região Norte também é muito acolhedora. Eu andei o Brasil inteiro umas seis vezes. Em algumas estados eu fui 20 ou 30 vezes. Há essas diferenças regionais que também passam para o lado religioso. Em São Paulo tem um grupo de jovens chamado Missão Madalena. Eles saem à noite para levar flores para as prostitutas e os travestis. Uma vez fui com eles. Vão para as avenidas onde há uma concentração maior de pessoas se prostituindo. Coisas simples que ninguém vê. São pessoas que, muitas vezes, nunca tiveram um olhar de carinho. São situações chocantes. Por trás de uma pessoa, há uma história, os traumas. Não podemos colocar todos no mesmo patamar. Fui a 32 países quando estava na CNBB e vi muita coisa bonita pelo mundo.
Os jovens possuem ídolos na música, no cinema, nas artes. Que modelo de jovem o senhor considera um exemplo a ser seguido?
Existem vários. Posso dizer que conheço jovens espalhados por esse Brasil que são verdadeiros heróis. Que dão exemplos muito bonitos, que dão a vida por trabalhos voluntários, por uma política séria. Tem um jovem brasileiro, um surfista que está em processo de beatificação, Guido Vidal França Schäffer. Era um jovem que usava as ondas para ter seu encontro com Deus e que fez da medicina uma forma de amar os mais pobres e necessitados. Seminarista, era conhecido por seu envolvimento nas causas sociais e morreu aos 34 anos, quando estava prestes a se tornar padre. Tem também Chiara Luce Badano, uma italiana que morreu aos 19 anos, soube lutar contra uma grave doença. Os 25 mil jovens presentes na cerimônia de sua beatificação, dia 25 de setembro de 2010, demonstraram que, com a sua vida, Chiara testemunhou um modelo de santidade que todos podem viver. Tem muitos exemplos bonitos, inclusive aqui no Estado. Não são extraterrestres, mas são jovens que sabem dar testemunho, dar bons exemplos.
Quais os principais problemas de formação dentro da família hoje em dia?
Se a gente não tratar bem a família como célula vital da sociedade, estamos perdidos. A sociedade é formada de famílias, com dificuldades, família boas, famílias diferentes. A família não é formada por pessoas iguais. Às vezes o desafio está dentro da própria casa. Do mesmo jeito que é oferecido muitas coisas para os jovens, também é oferecido para a família. Tem se criado muitos modelos de família e uns dizem que essa é boa, ou aquela é a melhor. A família ideal é a que Deus lhe deu, seu pai, sua mãe, seus irmãos, com seus acertos e dificuldades, com suas angústias. Temos que prezar muito pela família. Também não gosto de ver jovens muito “socados” dentro da igreja. Porque senão ele deixa a sua família de lado. Ele deve viver bem o seu mundo, na sua casa também. A família é que move
E o futuro dos jovens em relação ao trabalho? A juventude é alvo de desemprego e do emprego precário, da informalidade. Que medidas o senhor acha que devem ser tomadas para que os jovens tenham mais oportunidades?
Políticas públicas para a juventude. Tenho amigos na área da política e sempre digo isso a eles, que busquem elaborar políticas públicas dar oportunidade aos jovens. Existe um estigma, uma ideia de que eles estão na idade da preguiça, do não fazer coisa alguma. De ser tudo muito fugaz, sem solidez. Mas não creio que seja assim. O jovem quando entram em algo que ele acredita, ele vai até o fim. É ousado, descobre, é uma grande riqueza. Tenho amigos empresários que comentam isso. Mas precisamos criar políticas públicas para dar oportunidade para os jovens. E essas políticas precisam ser bem pensadas, mas não do adulto para o jovem. É preciso pensar com ele.
O jovem precisa ter voz e vez.
Um assunto polêmico que tem relação direta com a juventude brasileira é a possibilidade da redução da maioridade penal. Qual a sua opinião sobre isso?
Eu respeito a opinião de todos, mas sou contra a redução da maioridade penal por causa do sistema prisional que temos hoje no Brasil. Se nós tivéssemos um sistema diferente, talvez pudéssemos começar a pensar nessa possibilidade. Mas isso é uma agressão. Embora eu saiba que um jovem de 14 ou 16 anos seja capaz de cometer um crime, ninguém nega as atrocidades que temos visto, mas creio que as medidas devem ser preventivas. Não adianta querer resolver um problemas depois que ele acontece. Uma doença como a depressão, temos que tratar antes. Depois que está doente a gente também trata, mais fica mais difícil. Um câncer de mama, se é descoberto no início tem grandes chances de cura, mas se descobre depois, ela já não tem. A sociedade tem condições de perceber qual é o jovem que precisa de ajuda. Se a gente consegue fazer isso antes, não teríamos tantas crianças e adolescentes envolvidos com a criminalidade. Se tivéssemos escolas mais eficientes poderíamos salvar a vida de muitos jovens. O esporte, o lazer, a cultura, a arte. Não podemos fechar os olhos para a realidade da violência, da criminalidade entre os jovens, mas é a forma mais correta é colocar ele dentro de uma penitenciária com outros criminosos? Eu sei que existe muita teoria aí, pra cima e pra baixo, mas essa é minha opinião. E não é só porque a Igreja é contra, é porque acho que isso deve ser tratado de outra forma.
No ano de 2013 o Brasil viveu momentos marcantes, como as manifestações por melhorias, ocasião em que muitos jovens foram às ruas. O senhor acredita que a juventude está preparada para discutir a política do Brasil?
Temos jovens preparadíssimos, muitas vezes até mais do que os adultos para debater problemas sérios. Mas eles precisam ter voz. A gente não pode olhar a juventude como algo desorganizado, que não tem possibilidades. Todos os grandes profissionais tiveram que ser jovens. Conheço vários que são muito bons. Fiz seminários por todo o Brasil e vi como os jovens são preparados para debater qualquer tipo de assunto.
Outro fato marcante em 2013 foi vinda do Papa Francisco, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. O senhor acha que a vinda dele mudou o país em que aspectos?
A vinda dele representou um sinal de que uma pessoa pode fazer o bem, independente de sua religião. Uma pessoa que não tem só discurso. Muita gente passa por uma crise de referências e o Papa Francisco é uma referência. Mas não pelo que ele fala – pois ele fala pouco -, mas pelo que ele vive. É um homem que olha nos seus olhos. Ele se identifica com cada um e quantas pessoas ele não vê por esse mundo? Mas ele consegue olhar para nós. Tive uma experiência legal com ele. No ano passado, cuidei de tudo antes da JMJ e cuidei do depois. Levei 27 jovens para Roma para entregar a cruz, o ícone da Jornada para os jovens da Polônia. Quando o Papa passou por nós eu disse aos meninos que gritassem, pois ele ouviria. E ele veio em nossa direção e brincou: “Quem vai ganhar a Copa?”, pois isso aconteceu antes do Mundial. E ele nos disse, no meio daquela praça de São Pedro, em meio àquela multidão: “Meus queridos jovens, eu quero agradecer a vocês por todo trabalho feito na Jornada Mundial da Juventude. Saibam que a Igreja parabeniza vocês e está muito feliz com o que fizeram”. Imagine um Papa fazer isso? Você espera que um Papa venha perguntar quem vai ganhar a Copa? Você espera qualquer coisa, menos isso. Ele sabe as coisas que fala, se comunica muito bem. Ele cria identidade com as pessoas. Eu tive poucos encontros com ele antes da Jornada e quando ele me viu aqui me chamava de Padre do Bote Fé, ou seja, ele criou uma identidade. Um dos principais legados é esse, ele vive o que fala. O que ele deixou no nosso país foi essa referência de bondade e humildade.
O senhor passou sete anos como assessor nacional da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB. Quais os frutos desse trabalho?
Nesses anos realizamos 26 projetos, mas vou destacar três. Primeiro uma experiência com jovens comunicadores. Quando cheguei na CNBB vi que não existia um site para jovens. Então convidei cinco jovens, um de cada região do Brasil e criamos o “Jovens Conectados”. Hoje são 26 jovens, um de cada estado do país, todos da área de comunicação e duas vezes por ano se reúnem para debater as questões dessa área. Hoje em dia o Jovens Conectados é o grupo mais expressivo de comunicação dentro da Igreja no mundo. Outro projeto foi a Missão Jovem na Amazônia. Eu tinha esse sonho e levamos os jovens para a aldeia indígena Raposa Serra do Sol, onde passamos dez dias comendo com eles, caçando, vivendo, aprendendo tudo com aqueles índios. Foi formidável. O terceiro é a Jornada Mundial da Juventude que foi o projeto mais desafiante da minha vida, mas valeu muito a pena. É um divisor de águas na evangelização da juventude no Brasil.
Diante dos crescentes números sobre a violência contra a juventude, qual o maior desafio da Igreja e da sociedade para defender a vida dos jovens brasileiros?
A gente criou a Campanha Nacional Contra a Violência e o Extermínio da Juventude. Essa campanha é uma chamada de atenção à sociedade, para que se pense mais nas políticas publicas para a juventude. Se o jovem tem um emprego, uma boa educação, tem uma solidez na família é muito difícil ele partir para o lado da violência. Claro que existe, pois há jovens que tem tudo isso, mas mesmo assim se envolvem com crimes. Mas a proporção é bem menor. Se ele é acompanhado nas diversas áreas de sua vida, ele terá mais facilidade de partir para o bem do que para o mal. Sabemos que o jovem atua dos dois lados, do violentado e daquele que violenta. Nós temos um trabalho sistemático, existe grupo de jovens que estuda muito isso. A campanha terá sua continuidade e acredito que podemos fazer um trabalho eficaz. O jovem não pode ser responsabilizado por toda a violência do mundo. Por trás dele existe uma história e se essa historia é positiva, vai incidir na sua juventude se foi positiva. No entanto, se essa história for negativa, também irá incidir negativamente no seu desenvolvimento.